Álcool e juventude: a verdade que não “desce redonda”

Por: Isabela Collares

Mesmo o expectador mais distraído, já deve ter reparado na quantidade de anúncios publicitários de cerveja que exploram a figura do jovem como protagonista dos comerciais. Em clima de sol, calor, praia e mulheres com glândulas mamárias fartas e bem avantajadas, eis que o apelo para se render ao hedonismo é mesmo grande. Não fossem as piadas de gosto duvidoso mudarem de uma propaganda para outra, seria difícil identificar a marca de cerveja de cada anúncio, tamanha a semelhança com que o enredo da trama acontece. Terminada a festança e encerrados os apelos para se consumir a bebida, eis que a inserção do recado “beba com moderação” surge ao tempo de uma piscadela. A mesma mensagem também finaliza os anúncios das chamadas sodas alcoólicas. No pique de balada e erotização, a figura do jovem aparece como o centro das atenções nesse tipo de campanha. Em meio a tantos incentivos, é cobrada do público teen uma avaliação mais racional quanto a série de crenças favoráveis ao hábito de beber.

Ok. Mas antes de apontar o dedo para o pessoal da publicidade e antes de responder se o que veio antes foi o ovo ou a galinha, vale observar os nossos jovens e a forte relação que estabeleceram com a garrafa. Apesar das diferenças socioeconômicas e culturais entre os países, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indica o álcool como a substância psicoativa mais consumida no mundo. No Brasil, o álcool também é a droga mais usada em todas as faixas etárias, com destaque entre os mais jovens: 46% dos adolescentes brasileiros entre 14 e 17 anos consomem bebidas alcoólicas. O dado é de um estudo da ONU, que mapeou a ingestão de álcool entre os jovens de nove países da América Latina. O resultado foi preocupante: o Brasil ficou atrás apenas da Colômbia, com 51,9%, e do Uruguai, com 50,1%.

É preciso notar a relação dos jovens com a bebida como um problema que transcende o simples fenômeno ou hábito social do consumo do “chopinho” gelado do final do dia. Fazendo jus aos controversos critérios de noticiabilidade, as consequências do uso abusivo do álcool, só parecem  reportados quando ha tragédias, casos de violência ou acidentes de trânsito. Mas, infelizmente, questões como essas elucidam apenas a ponta do iceberg. As discussões a respeito do álcool entre os jovens e sua evolução para a dependência ainda são de pouca expressividade, já que as consequências dos goles frequentes só aparecem, na grande maioria dos casos, após certo período de tempo. De um ano para outro, pessoas das mais diversas profissões e categorias sociais se tornam alcoólatras, sem que haja um grupo específico de risco na sociedade. Isso quer dizer que o dependente de álcool pode surgir de um conjunto de indivíduos que não bebem ou bebem pouco. Dessa forma, os trabalhos de conscientização parecem assumir um caráter de importância inquestionável. Enquanto as políticas públicas ocorrem de forma tímida, abafada pelos interesses milionários da indústria de bebidas, do jovem é exigido um olhar mais crítico. Discernimento e lucidez. Preferencialmente, antes da “saideira”.

Isabela Collares é jornalista e voluntária do IIPC – Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia.

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